segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Hirátia, Capítulo 1, parte 1




Capítulo 1: Nobres e Pobres.     
Em um frio e cinzento dia de inverno, uma figura qualquer, com seu cavalo preto, o qual refletia em seu pelo as últimas luzes solares, passeava em baixo dos galhos secos dos carvalhos. Em seu rosto não existia emoção, era frio e pálido; seus olhos cansados fitavam o horizonte em busca de nada.
            Mais a frente os carvalhos deram espaço a plantas rasteiras e arbustos, estes impregnados com sangue. Corpos espreitavam por entre as folhas, braços e pernas sem dono eram disputados por cachorros, urubus e ratos. Porém o homem mal se alterava. Seguia cavalgando em seu alazão negro, fitando o horizonte.
            A trilha acabou em uma mistura de pedra, areia e tijolos. Duas cercas velhas empilhadas formavam um bastão, nele estavam presas placas.
“Lembre-se, sempre volte! Em cima é lugar de nobres, em baixo é lugar de pobres.”
            O homem passou pelas placas, não se importando muito com o que estava escrito. Continuou cavalgando, agora com olhos em belas construções que brotavam a frente, mesmo destruídas ainda continham certa beleza, um resquício do que fora antes. Casas dos nobres da Pedreira.
            Passou por debaixo das árvores, desceu do cavalo e o amarrou numa cerca de tijolos negros que havia em frente a uma das casas. Branca, inteirinha feita de quartzo talhado, o casebre brilhava no sol da tarde; pelos buracos da parede podia se ver quadros, mesas, uma cama rasgada, estantes empoeiradas, toca discos quebrados, cortinas caídas...
            O rapaz entra e rapidamente é recebido por um homem alto e magro de uns 40 anos de idade. Rugas derretiam seu rosto e uma barba grisalha escondia seu pescoço. Ele estava alterado, raivosamente segurava um facão na mão, – o qual balançava sem parar – balbuciava palavras sem sentido, às vezes gritava, mas assim que percebeu o rapaz parado em frente à porta admirando seu comportamento nocivo, o velho endireitou a coluna e encheu o peito como se falasse com orgulho.
            - Peguei um pivete, Chefe! – guardou a faca em sua cintura – Tentava me roubar maçãs. Queria matar ele, mas o senhor é quem manda nas mortes do reino agora...
            O moço fez um sinal para que ele lhe desse o facão e foi andando em direção à velha porta de madeira. Antes de abri-la, podia ouvir o choro e os soluços de um garoto. Ordenou com a cabeça que o velho saísse da casa, ele obedeceu. Levantou o facão para cima da cabeça e abriu a porta, sendo imediatamente abraçado pelo jovem que implorava pela vida, mas mesmo assim o homem desceu a espada.


Bruna Oliveira





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